O que são sobreexcitabilidades?
O termo sobreexcitabilidade vem do grego “super” (acima) + “excitação” (estimulação).
Em outras palavras, pessoas superdotadas têm um sistema nervoso mais responsivo aos estímulos internos e externos, o que as faz sentir, pensar e reagir de forma mais profunda e intensa.
Dabrowski descreveu cinco tipos principais de sobreexcitabilidade:
1. Intelectual
É a necessidade intensa de compreender o mundo.
A criança faz perguntas o tempo todo, busca lógica em tudo, tem sede de conhecimento, debate ideias e fica frustrada com respostas superficiais.
“Mas por quê? E se fosse diferente? E se ninguém existisse?” - perguntas que não param nunca.
2. Imaginativa
Manifesta-se por criatividade fértil, pensamento simbólico e mundos internos ricos.
São crianças que inventam histórias, vivem personagens, falam sozinhas em jogos, e podem preferir o universo da imaginação ao cotidiano.
“Ele vive no mundo da Lua”, é uma frase que muitos pais escutam sem perceber o quanto isso é valioso.
3. Psicomotora
É uma energia quase inesgotável.
Movimentam-se o tempo todo, falam rápido, gesticulam, têm dificuldade em relaxar.
Essa intensidade pode ser confundida com TDAH, mas é apenas a manifestação física do excesso de energia mental.
4. Emocional
São crianças com afetividade profunda e empatia acima da média.
Sentem o sofrimento do outro, se comovem com injustiças, têm apego forte às pessoas e aos animais, e podem reagir com intensidade ao medo, à alegria ou à tristeza.
“Chora por tudo”, dizem alguns, mas, na verdade, é um coração que sente demais
5. Sensorial
São mais sensíveis a sons, luzes, cheiros, sabores e texturas.
Podem se incomodar com etiquetas de roupa, barulhos altos, cheiros fortes, ou buscar prazer estético em detalhes que os outros nem notam.
“Olha como o céu tá bonito hoje!”, e fica ali, encantado, por minutos.
Por que é importante entender isso?
As sobreexcitabilidades não são sintomas de transtorno, e sim indicadores de um potencial ampliado.
Quando não compreendidas, porém, podem gerar diagnósticos equivocados, conflitos escolares e sofrimento emocional.
Essas crianças podem ser rotuladas como:
“ansiosas”,
“intensas demais”,
“imaturas”,
“problemáticas”.
Mas, na verdade, estão apenas vivendo o mundo em alta definição, sentindo e pensando com uma profundidade que o ambiente, muitas vezes, não acompanha.
Na escola e na vida social
As sobreexcitabilidades impactam o cotidiano:
Crianças intelectualmente intensas podem se frustrar com aulas repetitivas;
As emocionalmente intensas sofrem com críticas e injustiças;
As psicomotoras têm dificuldade de ficar paradas por muito tempo;
As sensoriais podem se desorganizar com ruídos e aglomerações;
E as imaginativas, às vezes, são vistas como “distraídas”.
Por isso, o olhar do educador e da família precisa ser de compreensão, acolhimento e desafio na medida certa, oferecendo estímulo cognitivo sem descuidar da saúde emocional.
O Decreto nº 12.686/2025, que atualiza a Política Nacional de Educação Inclusiva, garante às crianças com Altas Habilidades/Superdotação o direito ao Atendimento Educacional Especializado (AEE) e à adaptação curricular.
Isso significa que:
A escola deve identificar e acompanhar essas crianças,
Criar planos de ensino personalizados,
E garantir oportunidades de aceleração ou aprofundamento de estudos.
Além disso, é dever da rede de ensino oferecer formação aos professores para lidar com esses perfis, respeitando suas particularidades emocionais e cognitivas.
Conclusão
Compreender as sobreexcitabilidades é entender que a superdotação não é apenas um “Q.I. alto”, é uma forma diferente de existir, sentir e perceber o mundo.
Essas crianças não precisam “diminuir o brilho” para caber nos padrões.
Precisam de adultos que as enxerguem por inteiro, com sua sensibilidade, curiosidade e intensidade, e que as ajudem a transformar essa energia em propósito e contribuição.
Porque educar uma criança superdotada é um convite a aprender com ela o verdadeiro significado da sensibilidade humana.
💛 Por Marília Teófilo Lima Pessoa
Pedagoga | Neuropsicopedagoga | Mãe atípica | Fundadora do Mom Academy