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A crise na educação inclusiva e o direito humano à aprendizagem com dignidade

O Brasil vive uma crise silenciosa na educação inclusiva. Segundo o Censo Escolar 2024, mais de 1,7 milhão de estudantes com necessidades educacionais especiais estão matriculados na rede pública. Ao todo, 2.076.825 alunos foram identificados como público-alvo da educação especial.

Marília TeófiloMarília Teófilo
Leitura: 4 min
8/17/2025
A crise na educação inclusiva e o direito humano à aprendizagem com dignidade

Mas a realidade é dura: a maioria das escolas ainda não possui infraestrutura adequada, equipe capacitada ou protocolos claros para garantir um atendimento realmente inclusivo.

Os dados revelam que:

  • 92,6% desses estudantes estão em classes comuns, muitas vezes sem suporte adequado;
     
  • O acesso ao Atendimento Educacional Especializado (AEE) e a recursos de saúde (oftalmologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional) ainda avança lentamente, deixando lacunas críticas no desenvolvimento.

E quando falamos de inclusão, não falamos apenas de crianças com diagnóstico ou laudo.
Há também as crianças em risco de aprendizagem, aquelas que acumulam defasagens por vulnerabilidade social, que têm o cognitivo prejudicado pela falta de estímulos, alimentação ou acesso à saúde, e que não têm acesso a um laudo formal.

Mas, no fim, tudo converge para um ponto essencial: 

Aprender é um direito humano inegociável.

Cada criança precisa ter a chance de concluir seus estudos com dignidade.

O retrato global da urgência

O PISA 2022 confirma a gravidade: estudantes brasileiros de 15 anos obtiveram 379 pontos em Matemática, 410 em Leitura e 403 em Ciências, contra médias da OCDE de 472, 476 e 485 (OECD, 2023).

A UNESCO e o Banco Mundial alertam:

  • 75% dos adolescentes da América Latina estão abaixo da proficiência básica em Matemática;
  • 55% em Leitura (World Bank, 2023).

A OMS (2020) reconhece que dificuldades sensoriais e cognitivas não tratadas estão entre as principais causas de baixo desempenho e evasão escolar.

O que falta hoje nas escolas brasileiras

  • Ambientes e recursos físicos adequados: salas multisensoriais, espaços de AEE equipados, tecnologias assistivas.
     
  • Formação contínua para professores e auxiliares do AEE, ainda ausente em muitas redes.
     
  • Protocolos de diagnóstico precoce que integrem saúde e educação, identificando barreiras antes que se tornem intransponíveis.
     
  • Gestão da aprendizagem personalizada: planos individuais, ensino adaptativo, estimulação cognitiva.
     
  • Preparação para o trabalho e inclusão produtiva: programas de competências socioemocionais, orientação profissional e empregabilidade.

❌ As consequências devastadoras da inação

  • Atraso crônico na alfabetização: milhares chegam ao 5º ano sem ler ou escrever com autonomia.
     
  • Evasão escolar crescente: abandono motivado por frustração, baixa autoestima e ausência de apoio.
     
  • Perda de potencial humano e produtivo: talentos desperdiçados e irreparáveis.
     
  • Exclusão social e desemprego: jovens sem preparo permanecem fora da escola e do mercado, ampliando ciclos de pobreza.

Um cenário que exige resposta urgente

O Censo Escolar 2024 mostra que apenas 1 em cada 3 escolas com estudantes público-alvo da Educação Especial oferece AEE. Apesar do crescimento de 12,4% no último ano, o avanço não acompanha o aumento das matrículas (17,2% em 2023, 15,9% em 2022, 13,1% em 2021).

O MEC, por meio da PNEEPEI, estabeleceu como meta que todas as escolas tenham salas de recursos até 2026. Mas sabemos: a mudança precisa ser mais rápida.

Fundamentação teórica: saúde + educação = inclusão real

A UNESCO (2017) e a UNICEF (2021) reforçam: integrar saúde e educação é essencial para garantir aprendizagem de qualidade e equidade.

Eric Jensen lembra:

“O cérebro aprende por meio da emoção antes de processar pela razão. Quando necessidades básicas — incluindo saúde física e bem-estar emocional — não são atendidas, a aprendizagem é severamente comprometida.” (JENSEN, 2005, p.14)

Maria Teresa Eglér Mantoan complementa:

“A inclusão escolar pressupõe a eliminação de barreiras que impedem a plena participação dos alunos, o que implica atender suas necessidades de aprendizagem com recursos e apoios adequados.” (MANTOAN, 2003, p.23)

Ou seja: inclusão não é caridade, é direito.

Inclusão como justiça social

Seja uma criança com deficiência, em risco de aprendizagem ou em vulnerabilidade social, todas carregam o mesmo direito: aprender e concluir os estudos com dignidade.

A escola precisa deixar de ser um espaço que reproduz desigualdades para se tornar um espaço que rompe barreiras. E isso só será possível quando entendermos que inclusão e ensino adaptativo não são exceções, mas sim condições para a equidade.

 

Marília Teófilo
sobre o autor:

Marília Teófilo | Mom Academy

Marilia Teofilo é mãe de cinco, Pedagoga, Pós-graduada em Neuropsicopedagogia; Educação Especial e Inclusiva e Transtorno do Espectro Autista: Inclusão social e escolar. Formação em Neuroeducação e Altas Habilidades/Superdotação. Fundadora da Eduqhub. Escritora com 25 livros publicados.

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