Mas a realidade é dura: a maioria das escolas ainda não possui infraestrutura adequada, equipe capacitada ou protocolos claros para garantir um atendimento realmente inclusivo.
Os dados revelam que:
- 92,6% desses estudantes estão em classes comuns, muitas vezes sem suporte adequado;
- O acesso ao Atendimento Educacional Especializado (AEE) e a recursos de saúde (oftalmologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional) ainda avança lentamente, deixando lacunas críticas no desenvolvimento.
E quando falamos de inclusão, não falamos apenas de crianças com diagnóstico ou laudo.
Há também as crianças em risco de aprendizagem, aquelas que acumulam defasagens por vulnerabilidade social, que têm o cognitivo prejudicado pela falta de estímulos, alimentação ou acesso à saúde, e que não têm acesso a um laudo formal.
Mas, no fim, tudo converge para um ponto essencial:
Aprender é um direito humano inegociável.
Cada criança precisa ter a chance de concluir seus estudos com dignidade.
O retrato global da urgência
O PISA 2022 confirma a gravidade: estudantes brasileiros de 15 anos obtiveram 379 pontos em Matemática, 410 em Leitura e 403 em Ciências, contra médias da OCDE de 472, 476 e 485 (OECD, 2023).
A UNESCO e o Banco Mundial alertam:
- 75% dos adolescentes da América Latina estão abaixo da proficiência básica em Matemática;
- 55% em Leitura (World Bank, 2023).
A OMS (2020) reconhece que dificuldades sensoriais e cognitivas não tratadas estão entre as principais causas de baixo desempenho e evasão escolar.
O que falta hoje nas escolas brasileiras
- Ambientes e recursos físicos adequados: salas multisensoriais, espaços de AEE equipados, tecnologias assistivas.
- Formação contínua para professores e auxiliares do AEE, ainda ausente em muitas redes.
- Protocolos de diagnóstico precoce que integrem saúde e educação, identificando barreiras antes que se tornem intransponíveis.
- Gestão da aprendizagem personalizada: planos individuais, ensino adaptativo, estimulação cognitiva.
- Preparação para o trabalho e inclusão produtiva: programas de competências socioemocionais, orientação profissional e empregabilidade.
❌ As consequências devastadoras da inação
- Atraso crônico na alfabetização: milhares chegam ao 5º ano sem ler ou escrever com autonomia.
- Evasão escolar crescente: abandono motivado por frustração, baixa autoestima e ausência de apoio.
- Perda de potencial humano e produtivo: talentos desperdiçados e irreparáveis.
- Exclusão social e desemprego: jovens sem preparo permanecem fora da escola e do mercado, ampliando ciclos de pobreza.
Um cenário que exige resposta urgente
O Censo Escolar 2024 mostra que apenas 1 em cada 3 escolas com estudantes público-alvo da Educação Especial oferece AEE. Apesar do crescimento de 12,4% no último ano, o avanço não acompanha o aumento das matrículas (17,2% em 2023, 15,9% em 2022, 13,1% em 2021).
O MEC, por meio da PNEEPEI, estabeleceu como meta que todas as escolas tenham salas de recursos até 2026. Mas sabemos: a mudança precisa ser mais rápida.
Fundamentação teórica: saúde + educação = inclusão real
A UNESCO (2017) e a UNICEF (2021) reforçam: integrar saúde e educação é essencial para garantir aprendizagem de qualidade e equidade.
Eric Jensen lembra:
“O cérebro aprende por meio da emoção antes de processar pela razão. Quando necessidades básicas — incluindo saúde física e bem-estar emocional — não são atendidas, a aprendizagem é severamente comprometida.” (JENSEN, 2005, p.14)
Maria Teresa Eglér Mantoan complementa:
“A inclusão escolar pressupõe a eliminação de barreiras que impedem a plena participação dos alunos, o que implica atender suas necessidades de aprendizagem com recursos e apoios adequados.” (MANTOAN, 2003, p.23)
Ou seja: inclusão não é caridade, é direito.
Inclusão como justiça social
Seja uma criança com deficiência, em risco de aprendizagem ou em vulnerabilidade social, todas carregam o mesmo direito: aprender e concluir os estudos com dignidade.
A escola precisa deixar de ser um espaço que reproduz desigualdades para se tornar um espaço que rompe barreiras. E isso só será possível quando entendermos que inclusão e ensino adaptativo não são exceções, mas sim condições para a equidade.