O que dizem as definições oficiais
De acordo com o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais):
TEA (Transtorno do Espectro Autista) é caracterizado por dificuldades persistentes na comunicação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. A intensidade dos sintomas varia, por isso o termo “espectro”.
Já as Altas Habilidades/Superdotação se referem a indivíduos com potencial elevado em áreas intelectuais, acadêmicas, criativas, artísticas ou de liderança, e grande capacidade de aprender com rapidez e profundidade.
Quando os dois se encontram na mesma criança, temos um perfil que não se encaixa facilmente nos padrões escolares ou sociais, e que, por isso, muitas vezes passa despercebido ou é mal compreendido.
Sinais comuns da dupla excepcionalidade
Cada criança é única, mas há características que podem chamar a atenção:
Aprendem rápido e demonstram interesse intenso por temas específicos (dinossauros, astronomia, cálculos, mapas, etc.);
Fazem perguntas profundas e têm vocabulário avançado para a idade;
Mostram hipersensibilidade sensorial (a sons, texturas, luzes);
Têm dificuldade com mudanças, preferindo rotinas previsíveis;
Podem demonstrar isolamento social, dificuldade em interagir com colegas ou compreender regras sociais implícitas;
Apresentam comportamentos repetitivos ou hiperfoco em um assunto;
Alternam entre altíssimo desempenho em certas áreas e grande dificuldade em outras (por exemplo, excelente em matemática, mas com resistência à escrita).
Essas combinações geram confusão: às vezes a escola vê apenas o “gênio”, outras vezes só percebe o “comportamento difícil”.
E a criança, no meio disso tudo, pode sofrer com ansiedade, frustração ou sensação de não pertencimento.
Como descobrir se seu filho tem dupla excepcionalidade
A observação familiar é o primeiro passo. Se você percebe que seu filho demonstra talentos incomuns, mas também enfrenta desafios sociais, emocionais ou comportamentais, procure uma avaliação neuropsicológica.
Essa avaliação é realizada por neuropsicólogos e pode envolver também fonoaudiólogos, neuropsicopedagogos e neurologistas, dependendo do caso.
Ela permite compreender o perfil cognitivo e emocional completo da criança, seus pontos fortes, vulnerabilidades e necessidades específicas de apoio.
A partir disso, é possível construir um plano de desenvolvimento individualizado, com estratégias adequadas em casa e na escola.
Impactos na vida escolar e social
Na escola, as crianças com dupla excepcionalidade podem:
Sentir-se entediadas com atividades repetitivas;
Apresentar baixo rendimento por falta de desafio;
Ser mal interpretadas como “desatentas” ou “rebeldes”;
Sofrer isolamento social por diferenças de interesse ou comportamento;
Desenvolver transtornos emocionais secundários, como ansiedade e baixa autoestima, se não forem compreendidas.
Por isso, o papel da escola é fundamental. Com mediação pedagógica adequada, ensino personalizado e acompanhamento psicológico e psicopedagógico, essas crianças podem florescer plenamente, tanto intelectualmente quanto emocionalmente.
Direitos garantidos pela Política Nacional de Educação Especial e Inclusiva
O Decreto nº 12.686/2025, que atualiza a Política Nacional de Educação Inclusiva, trouxe um avanço importante: as Altas Habilidades/Superdotação foram oficialmente reconhecidas como público da Educação Especial, em igualdade de direitos com os estudantes com deficiência e TEA.
Isso significa que toda criança com AH/SD ou dupla excepcionalidade tem direito a:
Atendimento Educacional Especializado (AEE), com plano pedagógico individualizado;
Adaptação curricular e flexibilização de conteúdos conforme seu ritmo e potencial;
Apoio multiprofissional, envolvendo professores especializados, psicopedagogos e terapeutas;
Aceleração de estudos, quando indicada pela equipe técnica e pela família;
Ambiente escolar acolhedor, livre de rótulos e discriminação.
Em resumo
A dupla excepcionalidade não é um rótulo, mas um convite à compreensão. Essas crianças têm mentes brilhantes e corações sensíveis. Precisam de espaço, escuta e de uma rede de apoio que entenda que talento e vulnerabilidade podem caminhar juntos.
Se você desconfia que seu filho possa ter esse perfil, observe com carinho, anote os comportamentos que chamam atenção e busque uma avaliação com um profissional especializado.
O diagnóstico não limita, ele abre caminhos para que cada criança possa viver seu propósito, aprender com alegria e crescer sendo quem é.
💛 Por Marília Teófilo Lima Pessoa
Pedagoga | Neuropsicopedagoga | Mãe atípica | Fundadora do Mom Academy