Muitas mães chegam a esse ponto com o coração cheio de perguntas.
"Meu filho é diferente... será que ele é superdotado?"
"Ele tem raciocínio rápido, faz perguntas profundas, aprende muito rápido, mas às vezes também é ansioso, intenso e se frustra com facilidade."
Se você se identificou, este Guia é pra você. Um guia simples e acolhedor para começar a entender as Altas Habilidades/Superdotação.
Desenvolvido por Joseph Renzulli, o Conceito de Superdotação dos Três Anéis é uma abordagem de desenvolvimento que revolucionou a identificação de superdotados
Marília Teófilo • Leitura: 7 min • 6/1/2025
Primeira coisa: Superdotação não é “gênio” e nem vem com manual pronto
A ideia antiga de que crianças superdotadas são pequenos Einstein, geniais em tudo e com notas impecáveis… ficou no passado.
Hoje entendemos que a superdotação está dentro de um espectro, com muitas formas de se manifestar. Nem sempre é aquela criança "perfeita na escola". Às vezes, é a que questiona tudo, se entedia fácil, tem interesses diferentes da turma ou sofre com a frustração.
Mas afinal, o que são Altas Habilidades/Superdotação?
O termo "Altas Habilidades" (ou AH/SD, como é conhecido na educação) se refere a crianças e adolescentes que demonstram desempenho significativamente acima da média em uma ou mais áreas do conhecimento, como:
Acadêmica (ex: matemática, linguagem)
Criatividade
Liderança
Talento artístico (música, artes visuais, dança)
Capacidade psicomotora (ex: esportes com estratégia e precisão)
E até mesmo uma sensibilidade emocional acima do comum
Essas habilidades podem estar presentes com mais intensidade e em diferentes combinações, o que torna cada criança única.
Principais características de uma criança superdotada
Crianças com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD) costumam apresentar comportamentos e habilidades que fogem do padrão da sua idade cronológica. Mas atenção: isso não significa que sejam “melhores” — e sim diferentes.
Algumas características comuns incluem:
Curiosidade intensa: perguntam sobre tudo, o tempo todo.
Vocabulário avançado: usam palavras mais complexas desde pequenas.
Hiperfoco: se interessam profundamente por certos assuntos e querem saber tudo sobre eles.
Pensamento crítico: questionam regras, padrões e até autoridades (sim, às vezes parecem "desafiadoras").
Criatividade incomum: têm ideias fora da caixa, inventam jogos, histórias e soluções.
Alta sensibilidade emocional: sentem tudo de forma mais intensa — alegria, tristeza, frustração.
Empatia e justiça: demonstram compaixão, se preocupam com o que é certo ou errado desde cedo.
Aprendem com facilidade: dominam conteúdos rapidamente, muitas vezes sem precisar de repetição.
Assincronia: quando o corpo, a mente e as emoções não andam no mesmo ritmo
A assincronia é uma das marcas mais importantes da superdotação.
Ela acontece quando o desenvolvimento da criança é desigual entre diferentes áreas. Por exemplo:
Uma criança de 6 anos pode ter o raciocínio lógico de um pré-adolescente,
Mas ao mesmo tempo ter dificuldade para lidar com frustrações, como uma criança menor.
Ou seja: o corpo tem uma idade, a mente outra, e as emoções... bem, essas podem estar em outro tempo completamente diferente.
Esse descompasso pode gerar:
💥 Crises de frustração (por não conseguir o que imaginava) 😔 Sensação de solidão (por não se sentir compreendida) 🧩 Dificuldades na escola (não por falta de inteligência, mas por falta de estímulo ou compreensão)
Por isso, o acolhimento e a informação são fundamentais. Crianças superdotadas precisam de escuta, de espaço para se expressar e de adultos dispostos a enxergá-las além do boletim.
A Teoria dos Três Anéis de Renzulli
Para ajudar a identificar e entender melhor essas crianças, o psicólogo e pesquisador americano Joseph Renzulli desenvolveu uma das teorias mais conhecidas e respeitadas da área: a Teoria dos Três Anéis.
O Conceito de Superdotação dos Três Anéis é uma abordagem de desenvolvimento que revolucionou a identificação de superdotados
Segundo ele, uma criança com potencial para ser considerada superdotada não precisa ter apenas "inteligência alta". São três características principais que, quando se combinam, formam o que ele chama de comportamento superdotado:
1. Habilidade acima da média
Não é apenas ter uma nota boa — é demonstrar um nível alto de compreensão, raciocínio, ou desempenho em uma ou mais áreas. Pode ser lógico, verbal, artístico ou outro.
2. Criatividade
Capacidade de pensar diferente, ter ideias originais, resolver problemas de maneira inovadora, fazer conexões inusitadas. Crianças criativas muitas vezes surpreendem com suas perguntas e propostas “fora da caixa”.
3. Envolvimento com a tarefa
É o interesse profundo, a paixão, a persistência. A criança se envolve, quer saber mais, mergulha fundo. Muitas vezes ela se encanta por um tema e passa horas aprendendo sozinha sobre ele.
Segundo Renzulli, a verdadeira superdotação acontece quando esses três anéis se encontram.
E o que isso muda para mim, mãe?
Muda tudo. Entender que a superdotação é complexa, sensível e diversa te ajuda a olhar seu filho com mais escuta e menos cobrança.
Muitas dessas crianças:
Podem ter alto potencial e, ao mesmo tempo, dificuldades emocionais ou comportamentais.
Se frustram facilmente.
Têm uma grande necessidade de serem compreendidas e desafiadas.
Precisam de adultos que saibam oferecer estímulo na medida certa — nem de menos, nem em excesso.
Falo sobre esse tema não só como especialista na área, mas também como alguém que viveu essa experiência na pele. Só recebi meu diagnóstico de Altas Habilidades e Superdotação na vida adulta. Durante a infância, eu não me encaixava na escola, questionava tudo, me sentia diferente e, ao contrário do que muitos esperam de uma criança superdotada, eu não era uma aluna nota dez. Isso me gerou muita confusão interna, ansiedade e uma sensação de inadequação por muitos anos. Por isso, hoje faço questão de ajudar outras mães a perceberem que seus filhos não precisam se encaixar em um padrão para terem um potencial incrível — e que reconhecer esse potencial pode mudar suas histórias.
O que fazer se você desconfia?
Observe com atenção e anote comportamentos recorrentes.
Busque uma avaliação especializada com neuropsicopedagogos, neuropsicólogos ou centros de referência em AH/SD.
Informe-se. Entender sobre o assunto ajuda a acolher, sem rótulos nem pressões.
Converse com a escola. Professores também podem ajudar (e precisam ser parceiros).
Valorize quem seu filho é, não só o que ele sabe fazer.
Em resumo
Altas Habilidades e Superdotação não são um rótulo — são uma forma única de ver o mundo.
Se você desconfia que seu filho pode ser superdotado, esse é o começo de uma jornada de descoberta.
Mais do que acelerar conteúdo, essa jornada pede sensibilidade, escuta e amor.
Marilia Teofilo é mãe de cinco, Pedagoga, Pós-graduada em Neuropsicopedagogia;
Educação Especial e Inclusiva e Transtorno do Espectro Autista: Inclusão social e escolar.
Formação em Neuroeducação e Altas Habilidades/Superdotação.
Fundadora da Eduqhub.
Escritora com 25 livros publicados.